“(X)” (entendedores entenderão)
Ah!
Mais um jogo ambientado na era vitoriana.
The
Order 1886 retrata uma Londres paralela, governada de forma oculta por inimigos
retirados dos contos fantásticos de terror. Porém, na Londres alternativa que o
jogo exibe, existem vários utensílios modernos, como radiotransmissores, armas
elétricas e até arrombadores de porta, em uma grande sacada steampunk.
O
cenário é maravilhoso, a ambientação do jogo é primorosa e possui em seu
contexto pessoas e entidades de relevância histórica (como o Marquês de
Lafayette, Nikola Tesla, a Companhia das Índias Orientais, dentre outros). O
enredo do jogo e sua inserção em um contexto histórico existente é muito
empolgante, lembrou-me escritos de Bernard Cornwell, autor que pesquisa a
realidade histórica para escrever (e até encaixar) suas obras de ficção.
A
Ordem, que dá nome ao jogo, é a Távola Redonda que persistiu no tempo até o ano
em que o jogo se passa (1886), guerreando contra revolucionários e até mesmo
contra "mestiços" (lobisomens), infiltrados em todas as camadas sociais e de poder. É aí
que você entra, assumindo o controle de sir Galahad, um bigodudo cavaleiro do
mais alto escalão da Ordem e muito respeitado por seus pares.
A ideia
do jogo é fantástica, com uma utilização única da mitologia imaginada. Pena que
o jogo não possui mais do que 7 horas, sendo que você joga mesmo cerca de 3 ou
4.
O jogo
foi lançado com um certo atraso pelo Estúdio Ready at Dawn no início de 2015,
com a finalidade de evidenciar o poderio do Playstation 4. E realmente, os
gráficos do jogo são primorosos e mesmo agora, dois anos após o lançamento do
jogo, são poucos os títulos da plataforma que chegam perto da qualidade exibida
em The Order.
O
problema é que o não passa disso em muitos aspectos, o que acarretou
diversas notas baixas pela mídia especializada, que viu em The Order 1886 um
jogo mediano.
ENREDO: A história que The Order conta
foi muito bem construída. O jogo possui uma ambientação histórica excelente,
com diversas personalidades que de fato existiram. O universo é muito bem
construído, os personagens são carismáticos e a reviravolta existente no jogo é
muito bem trabalhada.
Sir Big Mustache Galahad, o protagonista. |
Porém, a história aparentemente inicia com o término do jogo, deixando o The Order com uma cara de prólogo. A impressão que dá é justamente essa, The Order 1886 tenta ser o início de uma franquia com diversos jogos futuros (o que,
aparentemente, não irá acontecer).
É uma
pena ver um enredo tão primoroso ter sido desperdiçado em um jogo com diversas
falhas, que serão descritas em breve.
MÚSICA: Outro ponto chave em The Order é
a trilha sonora. O jogo possui seus momentos de tensão, tensão essa em muito
agravada pelo primor da trilha sonora, que é de excelente qualidade.
Outra
coisa que merece ser destacada no jogo é a qualidade dos atores de voz (voice-acting). Tanto a versão em
português-Brasil quanto a versão original são muito competentes. No original os
personagens falam com um inglês britânico, que possui seu marcante sotaque. Já
na versão nacional os dubladores dedicaram-se ao máximo, podendo a dublagem
desse título ser comparada à de “The Last
of Us” com tranquilidade.
Porém a
dublagem nacional possui algumas partes em que a sincronização se perde, além
de duas ou três frases que foram esquecidas e ficaram no inglês original.
E para
casar com uma trilha sonora excelente, o jogo possui efeitos sonoros de
primeiríssima qualidade. Os disparos, barulhos, gritos, vozes... Todos os
efeitos sonoros do ambiente em que o jogo se passa são de uma realidade que
impressiona.
GRÁFICO: Faltariam palavras aqui para elogiar
a qualidade gráfica do jogo e sim, isso não é nada forçoso. The Order possui
gráficos tão bonitos que chega a ser difícil acreditar que o Playstation 4
esteja processando aquilo tudo. Foi o jogo que evidenciou o avanço de geração
no quesito gráfico (junto com o Ryse, do Xbox One).
Todos
os ambientes são muito bem trabalhados. Quando você passa por uma área
residencial, um palacete, ou até mesmo pelas ruas e vielas daquela Londres,
tudo possui de fato o tamanho natural das coisas. As áreas internas são
ricamente detalhadas, com todos os utensílios. O mesmo vale para as áreas
externas, todas elas parecem retiradas de fotografias, tamanho o cuidado aos
mínimos detalhes.
Apenas
para exemplificar, o Angry Joe perdeu quase um minuto falando da lâmpada de um
jardim no review que fez de The Order. O jogo é, de fato, a grande showcase do poderio gráfico do
Playstation 4.
GAMEPLAY: É aqui que você encontrará sua maior
decepção com o jogo. Todo o trabalho no enredo, toda a qualidade sonora, todo o
poderio gráfico, enfim, todas as qualidades que o jogo apresenta são jogadas no
lixo em uma experiência de jogo truncada e enfadonha.
The
Order, possui quase metade de seu tempo investido em cutscenes. E várias delas são meros diálogos, sem nenhuma
ação cinematográfica, sem nenhum acontecimento empolgante, nada. Simples diálogo.
O resto
do tempo que o jogo te proporciona é tomado
novamente pela metade em eventos de interação rápida (quick time events - QTE). Chega a ser massacrante o volume de QTE no jogo. E o pior, são eventos de
chance única. Errou, morreu. Simples assim.
Por
fim, as outras duas ou três horas que te restam são divididas entre uma
gameplay justa de cover-based third
person shooter e andanças completamentes desnecessárias.
Sério,
você passa vários trechos de jogo apenas andando num cenário muito bonito e bem
decorado, mas sem finalidade alguma, a não ser chegar do ponto A ao B em um
trajeto completamente linear. O jogo não te dá quase nenhuma interação com o
cenário, a não ser alguns poucos colecionáveis “escondidos” pelos mapas. E o
pior, esses colecionáveis não agregam quase nada à sua experiência de jogo, não
expandem o universo que é apresentado, não possuem relação nenhuma com os
acontecimentos vivenciados. São apenas coisas a serem observadas, nada mais do
que isso.
A única
coisa que tenta dar alguma expansão ao universo de The Order são pequenos áudios
que você encontra espalhados pelo cenário, mas o empenho para ouvi-los, tendo
que acessar o menu do jogo e ficar numa tela pausada acabam tornando a tarefa
cansativa, ainda mais depois dos longos diálogos entremeados com QTE e andanças
sem fim.
Armas steampunk dão um tom diferenciado ao jogo. |
Em alguns
momentos o jogo te permite utilizar três armas que possuem um avanço
tecnológico imenso e que são muito divertidas de jogar. Pena que elas não
permanecem no seu inventário durante o resto do jogo.
O cover-based dele é bem intuitivo, os
cenários são lineares, bastando você eliminar uma horda de inimigos e avançar
pelos caminhos, protegendo-se nos obstáculos que o cenário proporciona. O
sistema de tiro cego é muito funcional e, se não fossem os pequenos problemas
de câmera quando você está no cover, funcionaria muito bem.
Nos combates o jogo acrescenta duas mecânicas que são bem interessantes, a primeira
delas chama-se “blacksight”, que é
uma forma de mira automática por determinado tempo, em que o jogo entra em slowmotion e te permite aniquilar um
número maior de inimigos.
A
segunda, que tem muito a ver com o enredo do jogo, permite que você recupere-se
quando está gravemente ferido.
O
grande problema é a inteligência artificial (IA) do jogo em si (isso envolve
tanto seus companheiros quanto seus inimigos). Os inimigos raramente se movem,
basicamente eles ficam em outras posições de cover, levantando de tempos em
tempos para atirar em você.
E as
duas grandes batalhas do jogo são todas em QTE, o que acaba sendo muito
frustrante no final das coisas, pois fora os inimigos genéricos que possuem
baixíssima IA, você só enfrenta uma outra espécie de inimigo que é uma esponja
de tiros.
Existem
também outros pequenos momentos do jogo em que você se defronta com mestiços
(criaturas meio humanas meio lobos), em um combate mecânico, repetitivo e sem
graça, deixando o forte do enredo do jogo completamente de lado.
Por
fim, o jogo faz uma incursão em um sistema de stealth, que também é muito mal trabalhado. Da mesma forma que os
QTE, neste trecho do jogo você morre automaticamente se for visto.
PRÓS: Gráfico primoroso, trilha sonora excelente e
enredo diferenciado são as grandes virtudes de The Order 1886. Pode-se citar
aqui a competência do cover-based third
person shooter que o jogo apresenta, que, apesar de não ser inovador, não
deixa de divertir o jogador.
CONTRAS: A baixa duração da gameplay, com
diversas cutscenes, muitas QTE, inexistência de um modo multijogador, fator de
replay nulo, inimigos genéricos e em horda, sem qualquer diferença no padrão de
ataque, batalhas contra mestiços repetitivas e maçantes minaram muito qualquer
possibilidade de sucesso do The Order. O jogo poderia também permitir skip nas cutscenes e tutoriais (é isso mesmo, você não pode cortar a história em uma segunda gameplay), bem como indicar por capítulos quais os colecionáveis ausentes.
CONCLUSÃO: The Order 1886 merece sim ser jogado, apesar dos seus graves
defeitos. Pode-se dizer que o Playstation 4 não apresentou nenhum
outro jogo com uma qualidade gráfica tão primorosa (talvez Uncharted 4?).
Além
disso, a história que o jogo trás é convincente. Como dito em momento anterior,
o jogo poderia muito bem ser o prólogo de uma grande franquia, que poderia também corrigir os defeitos existentes em seu desenvolvimento. Na realidade a engine está pronta. Basta utilizá-la. Porém, ao que
tudo indica, isso está longe de acontecer.
Resumidamente,
a criação da franquia foi toda trabalhada pela Ready at Dawn, porém, conforme o
contrato de parceria estabelecido, o estúdio cedeu os direitos autorais da
obra à Sony e justamente essa cessão de direitos que gerou um grave
desentendimento entre as empresas.
Desde então
não há nenhuma notícia concreta sobre continuidade da franquia, existindo
apenas rumores extraídos de entrevistas e conversas entre os envolvidos.
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