sexta-feira, 7 de abril de 2017

Review - Fire Emblem Awakening


"O sapo não lava o pé... Não lava porque... não... tem...?"

O pessoal mais antigo deve lembrar de fantásticos jogos digitais de tabuleiro como Front Mission, Final Fantasy Tactics ou até o Ogre Battle.
Mas acredito que até o lançamento de Fire Emblem Awakening, poucos conhecem, ou conheciam, a franquia própria da Nintendo de fantasia medieval focada exclusivamente no sistema Turn-Based Strategy Role-Playing Game (TBS RPG).

O jogo foi desenvolvido pela Intelligent Systems em parceria com a Nintendo e publicado exclusivamente para o 3DS no final de 2012 para o Japão e início de 2013 para o mercado ocidental.


Assim como o primeiro Final Fantasy seria o último jogo da Square, que estava na iminência de falir, Fire Emblem Awakening seria o último jogo da franquia Fire Emblem (que possui poucos títulos oficialmente lançados para o ocidente). Porém, Awakening superou qualquer expectativa de vendas e representou (com o perdão do trocadilho), o despertar da franquia para novos títulos, com o mérito de agradar tanto os fãs de carteirinha quanto o público que sequer sabia do que o jogo se tratava, entregando uma das melhores experiências que o 3DS pode proporcionar.

Fire Emblem sempre foi uma franquia com base de fãs consolidada no oriente, porém, Awakening só tornou-se representativo no ocidente em razão da localização primorosa que recebeu. Geralmente jogos de estratégia possuem longos diálogos, muitas caixas de texto e história densa e extensa. E Fire Emblem Awakening, em específico, possui um estilo próximo de animes, com muitas coisas alusivas à cultura oriental. Traduzir tudo de uma forma que se mantenha a coesão e o sentido do jogo, localizando expressões, piadas e ditados é algo muito difícil, ainda mais quando existe uma grande diferença cultural entre o oriente e o ocidente. Awakening parece ter sido lançado diretamente para o público ocidental, de tão bom que foi o trabalho de localização que recebeu.

A história do jogo é baseada em intrigas políticas, invasão de reinos, guerra entre países, com direito à amnésia e viagens no tempo. Todos os clichês de JRPG medievais estão presentes, mas de forma harmônica e bem trabalhada. A história não é tediosa e cansativa, mas estende-se um pouco em razão do sistema de divisão em capítulos que o jogo foi montado, o que será explicado em breve.
Awakening, mesmo se passando no mesmo universo de outros títulos da franquia, quase não faz referência aos jogos pregressos, fator esse essencial para angariar novos admiradores. É um título indicadíssimo para aqueles que não conhecem nada desse universo.

Basicamente você inicia a história com um personagem que perdeu a memória e é encontrado por um grupo de guerreiros em meio a um combate, partindo daqui a narrativa. Seu primeiro personagem é customizável, o que torna a experiência ainda mais atrativa. O Diferencial de Awakening é que o primeiro personagem que você controla não é o personagem centro da história em si, ele se torna apenas o estrategista do grupo. A customização desse personagem é simples, mas oferece escolha de sexo bem como várias opções de cabelos, feições e até de vozes.

O sistema de jogo é parecido com o de todos os TBS RPG: mapas divididos em vários quadradinhos pelos quais suas unidades andam, sendo a ação por turnos. O diferencial de Fire Emblem se dá na possibilidade de pareamento das unidades e no sistema de suporte. Quanto mais as unidades se auxiliam nas batalhas, mais laços elas criam entre si, o que aumenta benefícios de atributos recebidos no combate, possibilidade de esquiva ou de defesa aos ataques inimigos, dentre outras funcionalidades.

O combate em si possui uma animação de ataque em 3d que lembra em muito Front Mission 3, no PS1. Os combates são todos definidos pela matemática do jogo e atributos das unidades, que são determinantes na definição de dano, chance de acerto, chance de crítico, etc, sendo a animação apenas algo dramático, para enriquecer e embelezar a experiência.

O que é único em Awakening é o sistema de suporte. Como dito anteriormente, se você dispuser suas unidades próximas umas das outras nos combates, você desencadeia diversas variantes, sendo uma delas a melhoria do vínculo entre os personagens. Essa melhoria de vínculo pode evoluir para um casamento, e, a depender das unidades que se casem, o jogo abre uma sidequest (paralogue) cujo objetivo é conhecer e recrutar para seu grupo o filho do casal. O meio do caminho até o casamento também é sensacional. Toda vez que o laço entre suas unidades é melhorado, abre-se um diálogo extra, geralmente carregado de sarcasmo e piadinhas, morando aqui o alívio cômico do jogo.

A história é contada em capítulos, sendo que cada capítulo é composto por dois trechos de narrativa, entremeados por um épico combate. Essa composição acaba estendendo o jogo um pouco que desnecessariamente, já que cada capítulo possui apenas um combate principal. Mas isso não significa que não haja outros desafios para você enfrentar. Entre os capítulos você pode navegar por um mapa do continente, sendo possível revisitar as áreas já conhecidas, adquirir novos equipamentos e itens e encontrar combates paralelos, que servem para você subir o nível das suas unidades e aprimorar o sistema de suporte entre elas. Além disso o jogo possui conteúdos adicionais gratuitos e pagos, bem como sistema online de combate, tudo para estender as horas gastas neste universo.

Por baixo, Fire Emblem Awakening leva cerca de 40 horas para ser concluído, isso numa dificuldade moderada. Há muito conteúdo no jogo. Além disso, o sistema de suporte proporciona um fator de replay gigante, já que cada vez que você joga, pode diversificar os relacionamentos, fazendo com que unidades criem afinidade com pares completamente distintos da gameplay anterior.

E não tenha medo de jogar nas dificuldades mais básicas no início. Fire Emblem é uma franquia difícil e o Awakening tentou proporcionar uma forma de jogo que agradasse tanto aos fãs da franquia quanto aos possíveis novos jogadores. Uma característica marcante nos jogos da série é a morte permanente de suas unidades. Para não frustrar navegantes de primeira viagem, Awakening trouxe o "Casual Mode", em que as unidades nocauteadas em combate são recuperadas no final de tudo.

Para os jogadores mais experientes, a dificuldade Normal não representa muito desafio, a não ser na reta final do jogo, em que as batalhas tornam-se muito mais difíceis e extensas. Já os modos Lunatic e Lunatic + são só para os jogadores realmente experientes, que não se importam em reiniciar batalhas completamente injustas por diversas vezes.

O jogo apresenta diversas outras mecânicas, como divisão de classes e evolução entre elas, sistema "pedra-papel-tesoura" de vantagem entre as armas, durabilidade de armas, aprimoramento de maestria para uso de armas, dentre outras coisas que agregam em muito o caráter tático do título.

A narrativa do jogo é fantástica. Os diálogos são extensos e até cansativos, mas o jogo permite pular tudo e ir direto para os combates. Caso você não pule os diálogos, perceberá que eles são entremeados por animações em 3D, que usam os sprites das cenas de combate, além de maravilhosas cenas em computação gráfica, com um visual todo baseado em anime. Todas essas cenas ficam ainda melhores quando ativada a função 3D do 3ds.

A parte sonora é primorosa. As músicas de fundo são de grande valor para a experiência. Fire Emblem Awakening possui uma trilha sonora de peso, que rivaliza com qualquer Final Fantasy em qualidade e originalidade. Os sons do jogo também são muito bem elaborados, apesar de repetitivos.

Mas, a despeito de todas as qualidades, o jogo apresenta alguns defeitos. O primeiro dele está nos gráficos em 3d, principalmente dos cenários. Awakening teve o início do seu desenvolvimento antes do anúncio oficial do 3ds, assim, a produção não considerou o real poderio da plataforma. Tal fato pesou na qualidade gráfica final do jogo, que apresenta cenários em 3d pobres e borrados.

Outra falha é a ausência de diálogos falados. Na plataforma, Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked possui todos os diálogos principais para a história do jogo gravados em áudio, enquanto Fire Emblem Awakening só possui falas completas nas CGS. Durante o jogo os personagens emitem alguns sons ou falam pequenas frases, apenas para ilustração. O trabalho de voz é excelente, mas peca pela ausência.

Além disso, os personagens não possuem pés! Esse detalhe é quase imperceptível para alguns, mas pode causar certo incômodo aos jogadores mais detalhistas.

Por fim, a história é completamente linear, sendo que as escolhas tomadas durante o jogo pouco influenciam os acontecimentos futuros. Mesmo que suas unidades morram, outras unidades desempenham as funções e diálogos nos trechos futuros, o que acaba prejudicando o próprio fator replay citado anteriormente.

Como veredito, é possível afirmar que Fire Emblem Awakening é um dos melhores jogos de estratégia por turno já lançados para vídeo game, bem como um dos melhores jogos já lançados para 3DS. Título obrigatório para os possuidores da plataforma, por entregar uma experiência diferente e honestíssima, com muitas horas de jogo, ótima trilha sonora, excelentes mecânicas de combate, história intrigante e... personagens sem pés!

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