Descrição da Imagem: Talion carregando Lithariel ferida em meio a um acampamento orc enquanto chove fortemente.
Escrito por Caio H. Amaro
Spoilers Abaixo
Após algum tempo joguei Sombras de Mordor e descobri que não concordava com as críticas que já havia lido referente ao combate repetitivo e à história incoerente no mundo de Senhor dos Anéis, porém encontrei outras coisas que incomodaram.
A primeira é nítida, e de certa forma condiz com a obra de Tolkien em si, onde papel feminino se reduz aos clichês já conhecidos, há uma ou outra mulher que protagoniza algo e somando Sillmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis não chegam a uma dezena. Inclusive a figura de Eowyn e seu “I am no man” parece mais uma brincadeira linguística do próprio Tolkien do que uma inclinação a desenvolvê-la na história.
Neste quesito, Sombras de Mordor resta fiel ao estabelecido nos livros: logo no início descobrimos que a motivação do protagonista Talion e do espectro que lhe confere poderes, Celebrimbor, são ambas a morte de suas esposas e filhos. A clássica vingança.
Porém há mais mulheres no jogo, algo que trouxe a chance de usar mais um estereótipo: a donzela em perigo. Sendo acrescentado um toque a mais: A donzela em perigo que além de tudo está errada. Exato. Primeiro temos a esposa de um dos que organiza a rebelião dos proscritos (escravos humanos dos orcs) que contraria nosso protagonista que depois (obviamente) a salva e ajuda no êxodo daqueles escravos. Enquanto na segunda metade do jogo somos apresentados à Lithariel, uma princesa que, junto à rainha sua mãe, quer remover o domínio dos orcs sobre a terra de Nurn.
A rainha, quase não é desenvolvida, pois a todo momento está sofrendo influência de Saruman, tal qual Théoden em As Duas Torres, porém sem a parte que mostra sua majestade após o exorcismo do mago branco, ela simplesmente perde sua importância para a narrativa. A cena passa então a Talion querendo convencer Lithariel que é inútil lutar contra os exércitos de Sauron, o que culmina nele tendo que salvá-la dos malígnos orcs (ué, de novo isso?) que queriam matá-la “bem devagarzinho”. Tudo isso para o quê? Para que logo depois Talion e Celebrimbor partam em uma missão para salvar Mordor, mas claro, sem dar o braço a torcer à princesa que lutava justamente por isto.
Também Lithariel não poderia deixar de ser um interesse romântico de Talion, mesmo que o jogo pareça se passar dias ou semanas após a morte de sua esposa. Algo incoerente que só reitera o padrão tão recorrente em histórias de fantasia.
Descrição da Imagem: Thalion e o anão Torvin caçando em conjunto, montados em caragors.
Nesse sentido, justiça seja feita: Talion não sofre desenvolvimento algum ao longo da narrativa, termina da mesma forma com que começou sua saga: submisso à Celebrimbor, responsável por trazer todos os aspectos interessantes à história e protagonista da DLC Senhor Brilhante que confere ao jogo um desafio final mais digno que a própria campanha principal com Talion.
Enquanto isso, o contexto histórico, alvo de críticas em seu lançamento, é o que mais torna a narrativa interessantes, as dramatizações em áudio liberadas quando você acha um artefato no cenário remetendo tanto à situações recentes quanto à acontecimentos épicos de um passado longínquo estabelecem pontos intrigantes para quem se interessa pelos apêndices das obras tolkienianas. Também há o deslumbre em se aventurar por cenários vistos nos filmes (mesmo que apenas Mordor) e respeitar ainda mais o universo detalhado de Arda, a maior proeza de Tolkien.
A Warner conhece a força de seus personagens de O Senhor dos Anéis e é incrível como o a história cresce quando Sméagol surge, restando à ele os melhores momentos do jogo. Em suas interações com o espectro também vale ressaltar a ótima tradução e dublagem para o português brasileiro.
Descrição da Imagem: Talion lutando com um grupo de orcs e atingindo um com sua espada no centro da imagem.
Dito isto, o jogo é sim interessantíssimo, por diversos aspectos que tantas resenhas já trataram e pelo novo (já velho) sistema Nemesis que implementou. A jogabilidade em si já seria o suficiente para chamar atenção, tanto no sentido de exploração quanto no combate responsivo. Essa experiência, acrescentada ao cuidado na retratação da Terra-média, traz horas e horas matando orcs, mas infelizmente vários desses momentos são pontuados com machismos de uma narrativa já batida.
Finalizo com o exemplo claro que ocorre quando Talion está em uma missão junto ao carismático anão caçador Torvin que tanto conta sobre seu falecido e grande companheiro de caçada, e começa, do nada, a resmungar sobre “sua mulher”, tornando-o só mais um personagem masculino senso comum que fala mal da esposa que não o deixa sair com os amigos.
Descrição da Imagem: Talion e Torvin em uma colina observando o ambiente.
Caio H. Amaro. Escritor, roteirista e jurista. Participa do Marca Página Podcast e publica seus trabalhos no Medium e Twitter.
Cara, na boa. Não entendi essa de "machismos". Qual o problema do anão falar da mulher dele? Se ele estivesse falando mal do "homem" dele seria diferente? WTF man?
ResponderExcluirNERDITUDE GAMEER APOIA ESSA POSTAGEM AI DO NOSSO PARCEIRO CAIO
ResponderExcluirO talkshow acabou? Voltem!
ResponderExcluirQuase ninguém ouvia
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